terça-feira, 14 de agosto de 2012

'Legião estrangeira' compõe equipe do jipe-robô em Marte

A chegada do novo jipe-robô da Nasa a Marte foi comemorada com tanto patriotismo nos EUA que alguns cientistas estrangeiros do projeto ficaram incomodados.
Foram os EUA, de fato, que levaram o aparelho a Marte, mas vários de seus componentes foram fabricados em outros países -e mesmo as equipes americanas do projeto contavam com muitos cientistas estrangeiros, incluindo três brasileiros.
"Hoje há mais quatro países --não vou dizer seus nomes- que estão em Marte, e eles estão lá porque foram com os EUA", disse Charles Bolden, administrador-chefe da Nasa, em seu primeiro discurso após o pouso.
"Sei que isso pode soar um pouco estranho nesse ambiente internacional, mas quero dizer que nossa liderança vai fazer o mundo melhor."
A declaração de tom político foi recebida com antipatia. O jipe, afinal, possui componentes espanhóis, franceses, canadenses, alemães e russos. A colaboração internacional foi crucial para o projeto, que correu o risco de ser cancelado por um estouro de orçamento nos EUA.
MÃO NO BOLSO
O discurso da Nasa tinha um destinatário específico: a Casa Branca, que reduziu o orçamento do programa de exploração de Marte para 2013. Existe na Nasa a esperança de que orçamentos futuros recompensem o êxito do Curiosity.
Para chamar a atenção do presidente, o coro nacionalista foi engrossado até pelo sotaque do libanês Charles Elachi, diretor do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, que lidera a missão. Ele comparou o pouso do jipe a uma olimpíada. "Nossa equipe aqui voltou com o ouro!"
Ainda não há uma conta oficial, porém, sobre quanto desse ouro é mérito americano. A Nasa investiu US$ 2,5 bilhões no Curiosity, mas não divulga a soma investida nos instrumentos de fabricação estrangeira, cada qual com preço estimado na casa das "dezenas de milhões".
Os europeus parecem ter ficado particularmente frustrados com o tom nacionalista da festa porque o estouro de orçamento do Curiosity contribuiu para os EUA abandonarem sua colaboração no projeto europeu Exomars, outro jipe programado para pousar em Marte em 2016.
Barack Obama levou uma semana para fazer uso eleitoral do sucesso do Curiosity e só ontem telefonou ao JPL.
"Aquilo que vocês fizeram é a materialização do espírito americano", disse, antes de agradecer também aos colaboradores estrangeiros.
PRESENÇA BRASILEIRA
O Brasil não é colaborador oficial do MSL (Laboratório de Ciências de Marte, nome oficial do Curiosity), mas um engenheiro brasileiro na Nasa teve um papel importante na realização do projeto.
Ramon de Paula assumiu a coordenação executiva do MSL durante dois anos, entre 2008 e 2010, quando o estouro de orçamento ameaçou a continuidade da missão.
O projeto foi resgatado graças a ele e a seus colegas da Nasa em Washington, que articulam a relação da agência espacial com a Casa Branca e o Congresso.
De Paula continua na missão, agora como executivo de programa da Odyssey e da MRO, as sondas que retransmitem à Terra os dados recolhidos pelo Curiosity.
Nilton Rennó, cientista atmosférico da Universidade de Michigan, trabalhou no sistema de pouso da missão e na estação meteorológica do Curiosity, fabricada por uma empresa espanhola.
Segundo ele, os trabalhos científicos sobre dados coletados pelo jipe devem abrir mais oportunidades de colaboração internacional.
"O jipe já está checando os instrumentos para a sua missão de dois anos, mas há chance de que dure até dez anos, se o pessoal da Nasa continuar investindo na ciência", afirmou, provocando o colega brasileiro.
"A Nasa vai continuar dando apoio à pesquisa por muitos anos, da mesma maneira que fez com os jipes Spirit e Oportunity", respondeu De Paula. "Pousar em Marte é muito difícil, por isso é importante aproveitar a capacidade de exploração do jipe ao máximo."

Fonte:  http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1136898-legiao-estrangeira-compoe-equipe-do-jipe-robo-em-marte.shtml

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