quarta-feira, 10 de junho de 2015

Duas batatas muito loucas no espaço

Plutão e suas luas

Plutão está cada vez mais perto de nós, não que o mais famoso planeta anão do Sistema Solar esteja em curso de colisão conosco. A sonda New Horizons está a caminho de Plutão e do seu sistema de 5 luas. E, batendo todos os recordes de velocidade, em coisa de um mês, ela vai passar a meros 10 mil km da superfície do planeta anão.

A data da maior aproximação, quando a sonda vai realizar o seu sobrevoo, será o dia 14 de julho. Atualmente, a distância até Plutão é menor que 47 milhões de quilômetros e, para se ter uma ideia da sua velocidade, ela diminui de 900 km a cada minuto que passa! Mesmo a essa distância, as imagens de Plutão já mexem com a imaginação de todos que acompanham a missão. A última delas sugere que uma capa de gelo esteja cobrindo um dos polos. Só que a resolução das fotos ainda é muito pobre para se tirar conclusões definitivas, ainda que sejam as melhores imagens de Plutão jamais obtidas.

Além das imagens em si, a pesquisa da New Horizons já começou também com seus instrumentos de rádio, que estão varrendo o caminho à sua frente. Muito mais do que descobrir novas luas (ao menos por enquanto) o objetivo é detectar objetos que possam representar algum perigo para a missão. Existe um plano de emergência que permite que a nave possa ser desviada para evitar uma colisão, mas a eficiência dessas manobras depende da descoberta precoce da ameaça. O procedimento para desviar já está nos computadores da nave, pois as ondas de rádio até a sonda demoram quase 5 horas para chegar. As manobras de emergência poderão ser executadas, se preciso, até o início de julho. Depois disso, o curso estará travado e qualquer colisão pode representar o fim da missão.

Mas isso não preocupa tanto os envolvidos na missão. A trajetória da sonda foi planejada para cruzar o plano do sistema na parte mais central dele, ou seja, nas proximidades de Plutão e Caronte. Os dois astros representam quase a totalidade da massa do sistema, de modo que a atração da gravidade dos dois deve ter limpado a região de pequenos objetos. Essa deve ser a região mais limpa de detritos de todo o sistema.

Outra descoberta que parece colaborar com essa ideia veio num artigo publicado na revista "Nature" desta semana. Mark Showalter do SETI, o famoso Instituto por Busca de Inteligência Extraterrestre, liderou uma equipe de astrônomos que sugerem algo interessante: Nix e Hidra possuem movimento de rotação caótico!

Nix e Hidra são duas luas bizarras de Plutão. Ambas são tão alongadas que mais parecem duas batatas espaciais, mas o que há de caótico nelas?

Usando dados do telescópio espacial Hubble, Showalter e seus colegas notaram que a quantidade de luz refletida por ambas as luas não era coerente com um movimento periódico constante. Apesar de mostrar uma periodicidade típica de corpos em rotação, o período do movimento variava de maneira irregular. Apesar de soar estranho, isso é o esperado quando um corpo tem um movimento resultante composto pela soma de vários tipos de movimentos. Estranho mesmo são os dois objetos terem tantos movimentos assim combinados, de modo a deixar o resultado caótico desse jeito.
Uma coisa que ajuda é a ressonância gravitacional que atua sobre o sistema. A ressonância faz com que as luas todas girem em torno do centro de gravidade do sistema de maneira sincronizada. Por exemplo, para cada cinco órbitas de Caronte, Cérbero dá apenas uma volta; para cada quatro voltas de Caronte, Nix completa apenas uma órbita. Mas essa é a parte fácil da análise das imagens, em que os padrões se repetem com periodicidade bem marcada. O que intrigou os pesquisadores foram os sinais que não se repetem dessa maneira.

As variações de luz observadas pelo Hubble, e e de tão sutis só poderiam ter sido descobertas com o Hubble, mostram que a rotação de Nix e Hidra (mas possivelmente de todos os outros satélites) é um “bamboleio” caótico sem padrão coerente. Melhor do que tentar explicar é ver essa animação acima baseada em simulações de computador, que reproduzem os dados reais observados.

O efeito prático dessa zoeira toda é que, para um hipotético habitante dessas luas, nunca seria possível prever quando, nem onde, o Sol irá surgir no horizonte. Aliás, se você prestar bastante atenção na animação, tem uma hora que a lua executa o movimento de maneira retrógrada, ou seja, inverte o sentido da rotação! Algo totalmente bizarro.

A explicação para isso acontecer deve estar na origem do sistema plutoniano de satélites. A teoria mais aceita é que uma grande colisão, lá pelo início do Sistema Solar, criou as condições para as luas se formarem. Plutão e Caronte devem ter limpado a maior parte dos detritos, mas o restante acabou formando as luas que, mesmo assim, conservam as características de destroços de uma grande colisão.

Bom, tudo isso mostrado na animação é fruto de estudos feitos a uma distância de 6 bilhões de km. Só que em menos de um mês, vamos estar "dentro" do sistema e vamos ter a oportunidade de acompanhar todos esses movimentos bizarros de uma distância muito pequena. Aliás, lembrando o que eu escrevi no começo, a cada minuto a distância encurta em 900 km!
Imagem: Nasa/ESA/A. Feild (STScI)

 Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/observatorio/post/duas-batatas-muito-loucas-no-espaco.html

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