segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Especiais / Retrospectiva 2012

Em 2012 avançamos no conhecimento sobre Marte, Mercúrio, a Lua, o Sol e planetas fora do sistema solar. Na astronomia brasileira, persistiu o impasse sobre a adesão do país ao Observatório Europeu do Sul.
Ao infinito e aquém
Imagem panorâmica de uma área de Marte chamada de Rocknest feita a partir de um mosaico de fotos tiradas por uma câmera do robô Curiosity entre outubro e novembro. (foto: Nasa/ JPL-Caltech/ MSSS)

Ainda não foi neste ano que descobrimos vida fora da Terra, mas pode-se dizer que alguns passos importantes nesse sentido foram dados em 2012. Avançamos também no conhecimento sobre nossas origens e sobre os limites do universo.
Um dos feitos de maior destaque no campo da astronomia foi o pouso, em agosto, do robô Curiosity na superfície de Marte, onde já teria identificado compostos orgânicos que podem indicar vida primitiva no planeta vermelho.
Um dos feitos de maior destaque no campo da astronomia foi o pouso, em agosto, do robô Curiosity na superfície de Marte
O fato de Marte ter estado, há bilhões de anos, na chamada zona habitável do sistema solar – faixa do espaço com maiores condições de abrigar vida – e a série de indícios de que o planeta contém água em seu subsolo reforçam a expectativa de se encontrar vestígio de vida, ainda que já extinta, em sua superfície.
Com cautela, a Nasa (agência espacial norte-
Com cautela, a Nasa (agência espacial norte-americana) anunciou no começo de dezembro que o solo da cratera onde o Curiosity se encontra contém compostos de cloro que podem ter também carbono – elemento fundamental para a existência de vida.
Para não gerar muita expectativa, Paul Mahaffy, pesquisador responsável pelos instrumentos de análise do Curiosity, alertou que é possível que a pequena quantidade de carbono presente na amostra analisada tenha sido levada até Marte pelo próprio robô. A confirmar.

Mercúrio

Não foi só de nosso vizinho que recebemos novidades interessantes. A sonda Messenger, também da Nasa, encontrou novas evidências, no fim de novembro, de que Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, tem depósitos de água congelada em crateras localizadas em seus polos. Embora a temperatura da superfície do astro chegue a 400°C, seu eixo de rotação faz com que os polos nunca sejam atingidos pela luz solar.
Segundo artigo publicado na revista Science, há ainda suspeita de que o gelo encontrado nas crateras polares esteja coberto por uma camada de materiais orgânicos semelhantes aos que deram origem à vida na Terra. Essas substâncias poderiam ter chegado à superfície de Mercúrio com a colisão de cometas e asteroides.

Região polar de mercúrio
Imagem da região polar norte de Mercúrio. Em amarelo são mostradas áreas onde é possível haver depósitos de água. (foto: Nasa/ Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/ Carnegie Institution of Washington/ National Astronomy and Ionosphere Center, Arecibo Observatory)
Fora do sistema solar
Entre os quase 900 exoplanetas (planetas que orbitam estrelas que não o Sol) já descobertos, alguns chamaram a atenção neste ano. Um deles é Alfa Centauri Bb, que recebeu esse nome por orbitar a estrela Alfa Centauri B. O planeta foi identificado por astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO) e anunciado em outubro.
O exoplaneta identificado no sistema Alfa Centauri muito provavelmente não abriga vida
O que o diferencia dos demais exoplanetas conhecidos é o fato de ser o planeta mais próximo do sistema solar já descoberto (‘apenas’ 4,3 anos-luz de nós), de se assemelhar à Terra e de orbitar uma estrela semelhante ao Sol. O exoplaneta identificado no sistema Alfa Centauri muito provavelmente não abriga vida, mas a semelhança com nosso planeta e sua proximidade são vistas como marcos importantes no estudo de exoplanetas.
Já no sistema denominado HD 40307, um grupo internacional de pesquisadores descobriu uma ‘super-Terra’, com cerca de sete vezes a massa do nosso planeta. O astro, localizado a 42 anos-luz daqui, chama a atenção por estar na chamada zona habitável de seu sistema, onde a água, se existir, pode ser encontrada em estado líquido – uma das condições para a ocorrência de vida.

Formação da Lua

Avançamos também no conhecimento sobre a formação da Lua, ocorrida há cerca de 4,5 bilhões de anos. Dois artigos publicados em outubro na revista Science reforçaram a teoria de que nosso satélite natural se originou de um grande impacto da Terra com um protoplaneta.

Mapa de alta resolução da gravidade da Lua
Mapa de alta resolução da gravidade da Lua, produzido a partir de informações de duas sondas da missão Grail, da Nasa. Resultado das análises, publicado na 'Science' no início de dezembro, revela que asteroides e cometas que colidiram com o satélite não apenas tornaram sua superfície esburacada, mas também provocaram profundas fraturas em sua crosta. (foto: Nasa/ JPL-Caltech/MIT/GSFC)

Uma hipótese diz que a Terra primitiva, com tamanho semelhante ao atual, teria sido atingida por um protoplaneta com massa equivalente a 0,05 da massa terrestre, ejetando fragmentos do planeta. No segundo cenário, dois protoplanetas de massa semelhante à metade da massa atual da Terra teriam se chocado. O impacto teria transformado os dois corpos em um ‘terceiro’ planeta e formado uma nuvem de destroços.
Nos dois casos, a gravidade da Terra teria sido a responsável por aglomerar a poeira para formar a Lua, e a interação gravitacional entre os dois corpos teria desacelerado a rotação do planeta para a velocidade atual. Qualquer das hipóteses explica por que rochas presentes na Terra e na Lua apresentam composição similar de oxigênio e de isótopos de elementos como tungstênio, cromo e titânio.

Neil Armstrong
Por falar em nosso satélite natural, em agosto deste ano morreu o astronauta norte-americano Neil Armstrong (1930-2012), primeiro homem a pisar na Lua.
Pouco depois de tocar o solo lunar, Armstrong disse a frase que ficaria famosa: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade”. O feito foi acompanhado por um bilhão de pessoas, em todo o mundo, que assistiram ao pouso da Apollo 11 ao vivo pela televisão no dia 20 de julho de 1969.
Neil Armstrong
Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, morreu em 25 de agosto de 2012. (foto: Nasa)


Turismo espacial

Mais de 40 anos depois da missão, a empresa norte-americana Golden Spike, fundada por ex-funcionários da Nasa, anunciou planos de operar viagens de turismo à Lua. No anúncio, feito no início de dezembro, foi apresentada estimativa de preço: cerca de 1,5 bilhão de dólares.
"O objetivo é otimizar a tecnologia empregada nos ônibus espaciais para vender o sistema a países, empresas ou pessoas cujos objetivos e ambições sejam explorar a Lua", anunciou a companhia em comunicado divulgado no último dia 7. A previsão é que a primeira expedição ocorra até 2020.

Brasil no ESO

Para a astronomia brasileira, o ano foi marcado por um impasse que, ao que tudo indica, se prorrogará ao menos até 2013. A adesão do Brasil ao Observatório Europeu do Sul (ESO), acordada em 2010 pelo governo federal e os 14 países europeus que integram a instituição, continuou indefinida.
A formalização do acordo depende apenas de ratificação pelo Congresso Nacional para entrar em vigor, mas o documento ainda não foi enviado ao Legislativo. Embora se arraste há mais de dois anos, em 2012 a questão teve seu clímax. Em janeiro, o diretor do ESO, Tim Zeeuw, fez severa crítica à indecisão do governo brasileiro. Segundo ele, essa atitude poderia inviabilizar a construção do maior telescópio do mundo, o Extremely Large Telescope (ELT), previsto para entrar em operação em 2020.
No pré-acordo, assinado em 2010 pelo então ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende, o Brasil se comprometeu a contribuir com 126 milhões de euros em troca de acesso ao supertelescópio e de outros benefícios, como poder de decisão sobre investimentos tecnológicos.
Já em 2012, o encaminhamento do acordo dependia do então ministro Aloizio Mercadante, que deixou a tarefa para o sucessor e atual responsável pela pasta, Marco Antonio Raupp. No fim de maio, o documento foi assinado por Raupp e enviado ao Ministério das Relações Exteriores, que, por sua vez, o encaminhou à Casa Civil em junho. Desde então, não há data para envio do acordo ao Congresso para ratificação.
Válio: “Achamos que a entrada no ESO vai alavancar a astronomia brasileira”
Apesar da indefinição do ingresso brasileiro no projeto, o ESO anunciou o plano de construção do ELT, e seu diretor declarou que continua aguardando a ratificação do acordo com o Brasil.
Astrônomos brasileiros tentam influenciar na aceleração do processo. “Achamos que a entrada no ESO vai alavancar a astronomia brasileira”, diz a astrônoma Adriana Válio, presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB). Segundo ela, cerca de 85% da comunidade científica é favorável à adesão, embora haja físicos e “alguns poucos membros” da própria SAB que se opõem. O principal argumento contrário ao acordo seria seu alto custo financeiro.

Contribuições brasileiras

Paralelamente a essa discussão, importantes resultados de pesquisa foram obtidos em 2012 com a participação de astrônomos brasileiros. Entre os destaques está o trabalho, de que é coautor o astrônomo Marcelo Emílio, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), que constatou que o Sol é o objeto natural mais redondo já medido pela ciência, embora tenha forma achatada.
O grupo é o mesmo que obteve, também neste ano, a medida do Sol com o maior índice de precisão possível até agora. O cálculo do raio de 696.342 km (com margem de erro de 65 km) consta de artigo publicado na revista Astrophysical Journal em junho.
Outras pesquisas importantes publicadas neste ano com participação brasileira incluem estudos sobre o planeta-anão do sistema solar Makemake e sobre os lagos de Titã, uma lua de Saturno, destaca a presidente da SAB.

E o mundo não acabou...

2012 foi ainda o ano em que a primeira cápsula comercial (Dragon) se acoplou à Estação Espacial Internacional, a primeira mulher chinesa (Liu Yang) foi para o espaço e os ônibus espaciais norte-americanos, aposentados em 2011, ganharam seus lares definitivos em museus.

Ônibus espacial Endeavour
Ônibus espacial Endeavour é carregado por um Boeing 747 sobre a cidade de Houston, no estado norte-americano do Texas. A aeronave, que deixou de ser usada em 2011, foi levada para o Centro de Ciências da Califórnia, em Los Angeles, também nos Estados Unidos, onde ficará exposta. (foto: Nasa/ Sheri Locke)
Passou o dia 21 de dezembro, data em que o mundo acabaria segundo uma suposta previsão dos maias, e ainda estamos aqui. É claro que o fim do mundo em 2012 nunca deveria ter sido levado a sério, mas, diante da proporção que o boato tomou, a Nasa teve de vir a público desmentir as especulações.
Em março, um site foi criado e um vídeo publicado na internet em resposta à grande quantidade de cartas que a agência espacial vinha recebendo de pessoas com medo do fim do mundo.
No dia 11 de dezembro, a agência lançou outro vídeo, no qual cita John Carlson, diretor do Centro para Arqueoastronomia da Universidade de Maryland, que explica que nenhum texto maia realmente previa o fim do mundo para 2012. O filme diz ainda que nunca houve qualquer possibilidade de um planeta, meteoro ou asteroide estar a caminho de colidir com nosso planeta.
Se ainda não foi neste ano que descobrimos vida fora da Terra, aqueles que temiam o fim do mundo podem, pelo menos, comemorar a continuidade da vida por aqui.

Célio Yano

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/retrospectiva-2012/ao-infinito-e-aquem

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