domingo, 26 de janeiro de 2014

Cortes no orçamento ameaçam missão da Nasa em Saturno

Uma década após entrar na órbita de Saturno, a venerável espaçonave Cassini, da Nasa, ainda está funcionando – muito além dos quatro anos de ciência que a agência espacial esperava conseguir. Porém, a nave está com pouco combustível de manobra, e seus gestores querem acabar com um estrondo científico – um cronograma ambicioso, que inclui 22 órbitas por uma abertura entre o planeta e seu anel mais interno antes de enviá-la a um mergulho para a morte em Saturno em 2017.
Há vários meses, no entanto, cientistas temem que a Nasa, financeiramente oprimida como o restante do governo americano, possa encerrar a missão mais cedo.
Nesta primavera no Hemisfério Norte, funcionários da agência irão conduzir uma revisão (como fazem a cada dois anos) das aeronaves que ultrapassaram suas missões originais. Para o ano fiscal de 2015, que começa em 1º de outubro, a Nasa terá escolhas particularmente difíceis.
Missões estendidas
A sonda de marte Curiosity, que custará US$ 67,6 milhões para operar neste ano, deve completar sua missão principal de dois anos em junho, e o dinheiro para prosseguir trabalhando virá de fundos dedicados a "missões estendidas". Para este ano, essa quantia é de US$ 140 milhões, o que inclui US$ 52,2 milhões para a Cassini. Outras missões estendidas incluem a espaçonave Messenger, em Mercúrio, a sonda Opportunity, em Marte, e a sonda Mars Reconnaissance Orbiter.
"Esta será uma competição muito interessante", declarou James Green, diretor da divisão de ciência planetária da agência, ao subcomitê do conselho consultivo da Nasa há alguns meses. "Temos duas missões principais bastante caras, a Cassini e a Curiosity, que são caras de operar mesmo em uma fase de missão prolongada, junto a muitas de nossas outras missões, que estão fazendo uma ciência enorme a baixo custo e, portanto, teremos que ser bastante minuciosos em relação a essa competição em particular".
Ninguém espera que a Nasa desative a Curiosity, que só chegará ao seu destino científico principal mais tarde neste ano, levantando temores de que a Cassini estaria no bloco de corte. Linda J. Spilker, sua cientista de projeto, declarou simplesmente: "Estou esperançosa de que tudo dará certo".
Mais recentemente, Green disse aos cientistas que a percepção de Cassini contra Curiosity era imprecisa, e que as equipes poderiam reduzir o custo e o escopo das missões estendidas. A Nasa também poderia utilizar outros fundos para pagar pelas duas missões, mas isso poderia ter outras consequências – como atrasar futuros projetos.
"Tudo isso é parte do processo. Estou pedindo que os cientistas não surtem, que não se preocupem com coisas que não podem controlar", afirmou Green durante uma entrevista.
A administração Obama, que propôs grandes cortes no orçamento de Ciências Planetárias nos últimos dois anos, também pode pedir por mais dinheiro para 2015.
"A administração segue comprometida em operar as missões pioneiras da Cassini e Curiosity, desde que elas continuem sendo analisadas nessas rigorosas revisões", declarou Phillip Larson, conselheiro de políticas espaciais da Casa Branca. "Se mantivermos uma delas ativa, isso não significa que precisaremos cancelar a outra".
A proposta orçamentária do governo deve ser divulgada no final de fevereiro ou início de março.
Saturno
Embora a Cassini venha estudando Saturno e suas luas há quase 10 anos, as órbitas finais trariam uma nova ciência. As passagens baixas, logo acima do topo das nuvens de Saturno a 76 mil milhas por hora, poderiam não só oferecer vistas espetaculares, mas também medir a estrutura dos campos magnéticos e gravitacionais de Saturno – assim como a missão Juno da Nasa, de US$ 1,1 bilhão, deve fazer em Júpiter. Esses dados responderiam questões aparentemente simples, como a velocidade de rotação de Saturno. Até agora, cientistas viram apenas os movimentos das nuvens mais elevadas, e não o que está abaixo delas.
"Existe uma missão totalmente nova esperando por nós no último ano desta missão", argumentou Candice Hansen-Koharcheck, cientista sênior do Planetary Sciences Institute em Tucson, Arizona, que comanda o grupo de avaliação de planetas da Nasa.
No próximo ano, a Cassini deve realizar três sobrevoos na pequena lua Encélado, que está lançando jatos de água no espaço, levantando a possibilidade de água líquida abaixo da superfície.
Desativar a Cassini agora, segundo Hansen-Koharcheck, "seria uma decisão trágica, míope e uma economia burra".
Comprimir o trabalho da Cassini em menos anos pode economizar dinheiro, mas segundo Spilker e Earl Maize, o gestor do projeto, não seria fácil. "Teríamos de abrir mão de algo muito grande".
Exceto por um mergulho no ano passado, causado pelos cortes orçamentários automáticos conhecidos como sequestro, o orçamento de pesquisa científica da Nasa permaneceu relativamente estável nos últimos anos, em cerca de US$ 5 bilhões. Entretanto, para absorver o excesso de custos no desenvolvimento do Telescópio Espacial James Webb, o sucessor do Hubble, Obama propôs cortes ao programa de Ciências Planetárias. Embora o Congresso tenha restaurado parte do dinheiro, o financiamento tem sido muito inferior ao que era previsto há alguns anos.
Economia
Mesmo com as missões atuais gerando uma montanha de dados e descobertas – "a quantidade de ciência aparecendo é fenomenal", afirmou John M. Grunsfeld, administrador científico da Nasa –, o futuro parece nebuloso, com menos missões programadas.
Uma alta prioridade dos cientistas planetários é uma análise mais atenta da Europa, uma das grandes luas de Júpiter, que possui um grande oceano por baixo de sua crosta de gelo, tornando-a um dos locais mais promissores para se descobrir vida dentro do sistema solar. Colocar uma espaçonave em órbita ao redor da Europa custaria quase US$ 5 bilhões, mas cientistas e engenheiros do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, em Pasadena, Califórnia, descobriram uma forma de cumprir muitos dos mesmos objetivos com uma nave de US$ 2 bilhões que simplesmente voe perto da Europa diversas vezes.
"Eu diria que essa nave faria 80% da ciência por metade do preço", disse Robert T. Pappalardo, cientista do pré-projeto.
Mesmo isso pode ser caro demais. Segundo o site SpacePolicyOnline.com relatou no mês passado, Charles F. Bolden Jr., o administrador da Nasa, disse ao conselho consultivo que a agência teria de parar de pensar em missões custando acima de US$ 1 bilhão. "Não existe mais lugar para isso no orçamento", afirmou ele.
Alguns dias depois, Bolden declarou que a agência seguia comprometida com missões futuras, mas acrescentou: "Estamos dedicados a buscar as maneiras mais econômicas de alcançar essa meta".
O Congresso vem empurrando a Nasa nessa direção. Ele alocou US$ 1,34 bilhão a Ciências Planetárias no projeto de gastos aprovado na semana passada – US$ 127 milhões a mais do que a administração havia solicitado –, e orientou a Nasa a gastar US$ 80 milhões em projetos preliminares para a missão Europa.
Heidi B. Hammel, chefe de Ciência Planetária da American Astronomical Society, apontou que o campo já viu dias piores. Em 1981, o administrador da Nasa, James Beggs, propôs sacrificar todo o programa de Ciência Planetária em resposta a exigências de profundos cortes orçamentários do governo Reagan.
"Não estamos tão mal quanto naquela época. Estou esperando um nivelamento. Não vejo uma tendência para baixo", explicou Hammel.
Nas negociações que se seguiram entre Beggs e autoridades da Casa Branca, o programa foi salvo, embora não tenha havido novas missões até 1989. Os cientistas criaram uma lista com quatro prioridades.
A quarta, estudar a lua de Saturno chamada Titã, se transformou na Cassini.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2014/01/25/cortes-no-orcamento-ameacam-missao-da-nasa-em-saturno.htm

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