O projeto original previa três meses. Mas lá se vão dez anos do jipe robótico
Opportunity perambulando pela superfície de Marte, e com descobertas cada vez
mais incríveis. A última foi de sinais de uma lama antiga feita com água doce no
passado molhado do planeta vermelho. Mais habitável que isso não fica, para vida
como a conhecemos.
Em um artigo científico publicado na última sexta-feira na revista "Science",
os pesquisadores que trabalham com o jipe confirmaram a descoberta, feita na
cratera Endeavour, a cerca de 39 km do local original do pouso, em Meridiani
Planum.
É um ótimo contraste com os primeiros resultados obtidos pelo jipe, que
desceu numa região onde, bilhões de anos atrás, havia um mar salgado e
extremamente ácido em Marte.
A nova descoberta, portanto, só foi possível graças à inesperada longevidade
do rover.
QUEM ESPERA ALCANÇA
Antes do pouso, realizado em 25 de janeiro de 2004, ninguém sabia exatamente
onde o Opportunity –que literalmente caía do céu, protegida por airbags–
desceria.
"Nós torcíamos para cair perto da cratera Endeavour, que parecia um lugar
muito interessante nas imagens orbitais", conta Paulo de Souza Júnior, físico
brasileiro que ajudou a projetar um dos instrumentos do jipe e participa da
missão até hoje.
Contudo, após o pouso, os cientistas constataram que estavam longe da
cobiçada cratera. Por sorte, a região da descida também era interessante e
permitiu ao rover da Nasa, equipado com instrumentos de exploração geológica,
identificar minerais indicativos da presença de água no passado do planeta
vermelho.
Naquela época, 4 bilhões de anos atrás, o planeta era muito mais quente, com
uma atmosfera densa e grande atividade geológica. Mas o mar de Meridiani Planum
não era exatamente como os terrestres. Era muito ácido.
Mesmo assim, foi um alívio. O irmão gêmeo do Opportunity, batizado de Spirit,
havia pousado com sucesso alguns dias antes, mas não encontrou nenhum sinal de
água nas imediações da região de pouso.
Se ambos encontrassem as mesmas condições, era bem possível que a agência
espacial americana não conseguisse cumprir o principal objetivo da missão:
confirmar que Marte teve mesmo um passado úmido e quente, muito mais amigável à
vida.
Porém, não só o Opportunity fez a descoberta logo de cara, como o Spirit
operou por muito mais tempo do que os três meses estimados. Avançando sobre
alvos promissores no terreno marciano, no fim das contas ele também encontrou
sinais de água.
Enfrentando terreno mais acidentado, o Spirit pifou em 2010. Mas seu irmão
seguiu em frente. Apesar da distância da cratera Endeavour, os cientistas
comandaram o robô a explorar naquela direção. E, para surpresa de todos, ele
conseguiu chegar lá.
Ao fim e ao cabo, o Opportunity é o segundo colocado no ranking mobilidade em
outro mundo, após percorrer 39 km, só atrás do veículo lunar soviético Lunokhod
2. E não dá sinais de parar.
No momento, ele opera em conjunto com o Curiosity, jipe mais avançado que a
Nasa colocou em Marte em 2012. A missão do colega mais avançado é encontrar
sinais de compostos orgânicos no planeta vermelho –mais um passo na busca por
sinais de vida passada ou presente naquele mundo.
"Não há rivalidade entre as duas missões", diz Souza Júnior, que atualmente
trabalha no CSIRO (Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e
Industrial), na Austrália. "Torcemos para que ele tenha tanto sucesso quanto o
Opportunity, ou até mais. Mas não vai ser fácil."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/01/1402810-jipe-opportunity-bate-recorde-de-quilometros-percorridos-em-marte.shtml
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