O planeta-anão Ceres, com órbita entre Marte e Júpiter, possui água em sua
superfície, indicam imagens do telescópio espacial Herschel, que enxerga
infravermelho. Seria uma descoberta trivial, não fosse pelo fato de que teorias
físicas proíbem objetos úmidos de se formarem ali.
O estudo desse pequeno mundo –habitante da zona conhecida como Cinturão de
Asteroides– não teria em princípio a capacidade de abalar teorias astronômicas
importantes. A nova descoberta sobre Ceres, porém, pode levar até mesmo a uma
revisão das teorias de por que a própria Terra possui água.
As moléculas de H2O presentes no planeta-anão estão na forma de vapor, que
emana de duas fontes diferentes, afirma estudo sobre a descoberta, publicado na
edição de hoje da revista "Nature". É relativamente pouca água –seis litros
sendo liberados por segundo– , mas é o suficiente para estimular astrônomos a
rever teorias sobre a formação dos Sistema Solar.
No centro da discussão está a questão da diferença entre um cometa e um
asteroide. Um cometa, pela definição clássica, é um corpo celeste de órbita
alongada, capaz de viajar para os confins do Sistema Solar, e com um bocado de
gelo d'água em sua composição. Já um asteroide é um corpo seco e rochoso, com
órbitas confinadas à parte mais interna do Sistema Solar, antes de Júpiter.
ESTRANHO NO NINHO
Acreditava-se que Ceres, promovido a planeta-anão
apenas em razão de seu tamanho (leia quadro à dir.), seria essencialmente um
asteroide. Ele habita, aliás, uma região orbital conhecida como cinturão de
asteroides.
Nessa região, o calor do Sol é forte demais para que seja possível o acúmulo
de gelo na superfície de um corpo pequeno. Objetos retendo H2O, em princípio, só
se formam em órbitas mais distantes.
"Ceres, em teoria, deveria ser rochoso e seco", disse à Folha Michael
Küppers, astrônomo da Agência Espacial Europeia que liderou a descoberta
anunciada agora. "Talvez Ceres tenha surgido no próprio cinturão de asteroides,
mas depois tenha coletado matéria de objetos que vieram do Sistema Solar
exterior e se chocaram com ele."
Outra hipótese é que Ceres tenha se formado longe do Sol e depois sido
tragado para perto. Algo capaz de fazer isso seria uma "migração" da órbita de
Júpiter, o segundo corpo mais maciço do Sistema Solar, capaz de desestabilizar
objetos menores.
"Uma pista inicial de que planetas gigantes do Sistema Solar podem sofrer
migração drástica veio em 1995, com a descoberta de alguns planetas
extrassolares gigantes orbitando estrelas a uma distância menor do que a do Sol
a Mercúrio –distância orbital onde não poderiam ter se formado", escreve
Humberto Campins, da Universidade da Flórida Central, comentando a descoberta de
Küppers.
A Terra também formou-se relativamente perto do Sol e, longe de cometas que
poderiam "abastecê-la", não poderia ter água. Nossos oceanos, porém, podem ter
sido semeados por asteroides "úmidos" –objeto de existência questionada até
agora.
Não se sabe de onde sai o vapor que Ceres exala. Küppers suspeita que sejam
ou crostas de gelo evaporando no fundo de crateras ou "criovulcanismo" –vulcões
alimentados por gelo em vez de lava. A sonda espacial Dawn, que visitará Ceres
em 2015, poderá resolver o mistério.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/01/1401483-telescopio-ve-agua-no-planeta-anao-ceres.shtml
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