Depois de confirmar exaustivamente que Marte já foi úmido no passado, os
cientistas da Nasa passam à próxima questão lógica: como o planeta foi perder
sua água? Essa é a resposta que a sonda Maven irá procurar no planeta vermelho.
A nave deve ser lançada amanhã de Cabo Canaveral, Flórida, às 15h28 (horário
de Brasília), se as condições meteorológicas permitirem.
A Maven (acrônimo inglês para Evolução de Voláteis e Atmosfera de Marte, mas
também palavra que designa um especialista que acumula conhecimentos e os passa
adiante) faz parte de um programa de batedores ("scouts") marcianos da agência
espacial americana.
O projeto esteve em desenvolvimento ao longo da última década, a um custo de
US$ 671 milhões. Pode parecer uma bolada, mas não se compara aos US$ 2,5 bilhões
do jipe Curiosity, que atualmente perambula por Marte.
O lançamento aproveita a janela de oportunidade que coloca Terra e Marte em
posições adequadas para um lançamento "econômico", que gasta menos combustível
entre os dois planetas.
A chance vem a cada 26 meses, e a Nasa tem aproveitado as oportunidades para
despachar novas sondas para Marte. Desde 2001, a agência americana só perdeu a
chance em 2009, por atrasos com o Curiosity.
CADÊ A ÁGUA?
O objetivo final do programa é determinar a possibilidade de que Marte tenha
tido vida no passado ou ainda preserve alguma criatura viva. Adicionalmente, a
Nasa tem planos de longo prazo que envolvem uma missão tripulada ao planeta
vermelho --mas sem data para acontecer.
Contudo, os objetivos individuais da Maven são mais específicos. Os
pesquisadores liderados por Bruce Jakosky, cientista planetário da Universidade
de Colorado em Boulder, querem saber como Marte deixou de ser um planeta com
rios, lagos e mares para se tornar um deserto.
A chave do mistério passa por entender as mudanças pelas quais a atmosfera do
planeta vermelho passou ao longo dos 4,7 bilhões de anos de história do Sistema
Solar.
Equipada com diferentes sensores destinados a estudar a alta atmosfera
marciana, a Maven tentará reconstruir essa história.
ÓRBITA ELÍPTICA
Após dez meses de travessia do espaço, a sonda se colocará numa órbita
bastante oval ao redor de Marte. Quando passar perto do planeta, ela chegará a
ficar a apenas 150 km da superfície. Em compensação, no afastamento máximo, a
distância aumenta para quase 6.000 km.
A sonda fará reduções graduais na órbita, até atingir uma proximidade máxima
de 120 km. Com isso, seus instrumentos poderão realizar medições em diferentes
pontos da alta atmosfera.
Os magnetômetros servirão para investigar a interação da atmosfera marciana
com o vento solar --partículas de radiação emitidas por nossa estrela-mãe. Eles
também poderão investigar o que aconteceu ao campo magnético de Marte, que
parece ter existido, mas hoje só se manifesta localmente.
O principal foco, contudo, é descobrir para onde foi a antiga atmosfera
marciana e por que hoje o planeta tem um ar composto majoritariamente por gás
carbônico que tem um centésimo da densidade do encontrado na Terra.
"Queremos entender melhor como os gases escapam da atmosfera de Marte e como
isso pode ter acontecido através do tempo", afirma Ramon de Paula, brasileiro
que trabalha no Quartel-General da Nasa no planejamento das missões marcianas.
Enquanto há muita empolgação pelo lançamento da Maven, De Paula já está
focado na missão marciana marcada para 2016, a InSight, que fará um pouso em
Marte.
"Nosso objetivo é compreender melhor a história de Marte, da atmosfera e do
clima", completa o brasileiro.
É uma investigação que tem implicações não só para a busca de vida no planeta
vermelho, mas em mundos fora do Sistema Solar.
Com a descoberta de mundos na zona habitável de outras estrelas, torna-se
importante compreender o que pode dar errado com eles para que não se tornem
amigáveis à vida, apesar de estarem em boa posição em seus sistemas planetários
para abrigar água em estado líquido. O planeta vermelho pode ser um bom exemplo
disso.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/11/1372212-sonda-da-nasa-vai-investigar-como-marte-perdeu-sua-atmosfera-original.shtml
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