Está marcado para amanhã de manhã o lançamento de uma das mais ambiciosas
missões espaciais europeias: o satélite Gaia.
A sonda fará o mais completo censo das estrelas da Via Láctea. A espaçonave
vai monitorar cerca de 1 bilhão de astros, de um total estimado em 100 bilhões a
200 bilhões na galáxia.
"É como se até agora nossas pesquisas de opinião pública só pudessem abranger
uma dezena de pessoas e, de repente, pudéssemos amostrar 10 mil pessoas, de
diferentes idades, poder aquisitivo, escolaridade etc.", compara Augusto
Damineli, astrônomo da USP que não está envolvido com o projeto.
O principal objetivo do Gaia é ajudar a compreender como se organiza a nossa
própria galáxia.
Parece mais trivial do que é na verdade. Como estamos dentro dela, é muito
difícil identificar sua forma exata.
"É um vexame que saibamos mais sobre as casas vizinhas do que sobre a nossa",
brinca Damineli. "Sabemos com precisão muito maior qual é a estrutura de
Andrômeda [maior das galáxias de nossa região do Universo] do que a da Via
Láctea."
ESPIRAL
Em geral, sabe-se que estamos numa galáxia espiral, que tem uma barra
(estrutura alongada) na região central. Mas os astrônomos não entram num acordo
nem sobre quantos braços ela tem ou onde estão.
O Gaia pode não solucionar todos esses mistérios, mas vai dar uma boa ajuda.
Seus instrumentos permitirão medir não só as propriedades intrínsecas das
estrelas (como cor, brilho e temperatura) mas dará coordenadas exatas de sua
distância e velocidade.
Com isso, os pesquisadores poderão recriar como a Via
Láctea seria se estivesse sendo vista "de cima".
Damineli afirma que o satélite não trabalha com luz infravermelha, que
permitiria o mapeamento dos braços espirais da galáxia.
Em compensação, ele promete uma compreensão sem precedentes da população de
estrelas na Via Láctea, incluindo a possível descoberta de planetas ao seu
redor.
CAÇA-MUNDOS
Num raio de 150 anos-luz (um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros),
o Gaia também será um potente caçador de planetas. Ele não serve para procurar
mundos similares à Terra, mas estima-se que descobrirá simplesmente todos os
planetas do porte de Júpiter com órbitas que vão de 1,5 ano a 9 anos terrestres.
Ironicamente, caso o Sol fosse uma das estrelas estudadas, nosso Júpiter
ficaria de fora, porque sua órbita demora 12 anos.
Ainda assim, estima-se que o Gaia descubra entre 10 mil e 50 mil exoplanetas
durante sua missão, que deve durar pelo menos cinco anos.
Com seus telescópios sensíveis, o Gaia também fará descobertas no campo das
anã marrons --objetos estranhos que nascem como estrelas, mas não atingem
tamanho suficiente para realizar fusão nuclear. Apesar de mais numerosos, são
bem mais difíceis de achar, por conta do baixo brilho.
No Sistema Solar, o satélite europeu também encontrará dezenas de milhares de
asteroides --alguns deles potencialmente ameaçadores à Terra-- e membros do
cinturão de Kuiper, região do nossos sistema além de Netuno que contém objetos
celestes e o planeta-anão Plutão.
Existe também a possibilidade de que ele revele a existência de planetas
dentro do Sistema Solar além de Netuno, caso eles existam (ninguém está
prendendo a respiração por essa descoberta).
Tudo isso a um custo estimado de US$ 1 bilhão. A missão da ESA (Agência
Espacial Europeia) vai partir de Kourou, na Guiana Francesa, impulsionada por um
foguete russo Soyuz-Fregat.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/12/1387089-satelite-europeu-vai-fazer-mapa-3d-da-via-lactea.shtml
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