O astrônomo britânico que líderou uma missão fracassada a Marte, a Beagle 2, disse no programa "Material World", da BBC Radio 4, que a nova missão americana ao planeta vermelho é de altíssimo risco.
Professor de Ciências Planetárias da Open University, no Reino Unido, Colin Pillinger comentou que o início da missão MSL (sigla em inglês de Mars Science Laboratory) deve criar um clima de preocupação entre seus colegas da Nasa (agência espacial americana).
Pillinger sinalizou que a missão enfrenta agora riscos muito altos. "Dois terços das missões fracassam."
Quanto às chances de sucesso da nova missão americana, ele hesitou em arriscar um palpite. "As chances são tão boas quanto os engenheiros puderem assegurar. Você testa, testa e testa, e nunca lança algo que não tenha chances de sucesso."
Pillinger conta que a missão atual é um grande experimento. "Eles vão testar um novo sistema de aterrissagem.
No sábado (27), terá início a missão MSL, cuja estrela é o jipe Curiosity. "Ele é do tamanho de um carro pequeno, o maior veículo já lançado. Já a Beagle 2 era do tamanho de uma roda de carro", acrescentou.
"Na Beagle, nós usamos um sistema em que a nave é embalada com sacos cheios de gás e acoplada a um paraquedas. Quando ela toca o chão, ela joga os sacos fora e vai embora", explicou. "Dessa vez, eles vão sobrevoar o local e baixar o veículo com cabos. Quando a sonda tocar o chão, vão cortar os cabos. É um grande experimento, e de alto risco. Eles têm uma chance única de sucesso."
"Alguns engenheiros da Nasa devem estar extremamente preocupados, mas devem estar também confiantes de que fizeram o melhor possível."
O grande tamanho do Curiosity se deve ao fato de que o equipamento não ser movido a energia solar. O robô é munido de um gerador nuclear que lhe fornece energia constantemente, permitindo que viaje para mais longe e com mais rapidez.
Enquanto explora Marte, o robô estará procurando respostas para a pergunta que há muito tempo os cientistas tentam responder: haveria sinais de vida no planeta vermelho?
"Eles vão fazer experimentos que vão contribuir muito nessa direção", afirmou Pillinger. "Está carregando exatamente os instrumentos que eu teria escolhido."
FRACASSOS
Desde a década de 1960, dezenas de missões robóticas foram direcionadas a Marte, com o intuito de coletar informações sobre as condições do planeta e sua história, além de abrir caminho para uma possível missão tripulada.
A maior parte missões fracassou, levando cientistas a ponderar, brincando, sobre a existência de um diabo galáctico que se alimentaria de sondas enviadas a Marte. Outros falam da "maldição" do planeta vermelho.
O caso mais recente de missão fracassada a Marte --ou quase fracassada, já que os cientistas ainda estão tentando salvá-la-- foi o lançamento da sonda russa Fobos-Grunt, no último dia 9.
Apesar de ter sido lançada com sucesso, os cientistas russos não conseguiram colocar a nave na direção correta (seu destino seria uma das luas de Marte) e a missão está presa na órbita da Terra.
Depois de duas semanas de tentativas, a ESA (Agência Espacial Europeia) conseguiu estabelecer contato com a sonda.
Agora, a agência trabalha com cientistas russos para identificar o problema da sonda e consertar seu motor.
"Eles não conseguem dar ignição no motor", disse Pillinger. "As baterias da nave estão acabando e uma vez que isso aconteça, será o fim da missão."
Ele explicou que, no caso da missão liderada por ele, a Beagle 2, lançada em 2003, foi diferente: "A Beagle chegou a Marte, mas o problema aconteceu na descida. A descida é sempre a fase mais difícil."
Pillinger citou que o grande desafio em missões como essas não é necessariamente a distância.
"Podemos ir muito mais longe. Hoje mesmo estávamos discutindo a possibilidade de irmos às luas do planeta gigante [Júpiter] para reexaminar Europa e buscar evidências de vida lá."
Pillinger adicionou que, quanto mais longe vai uma missão espacial, mais falhas acontecem. "Cada uma dessas falhas, se você não consegue resolver o problema, significa o fim da missão."
A estratégia usada pelos cientistas é criar duplicatas de cada sistema. Quando um aparelho falha, o outro assume seu lugar.
"Você constroi as naves com a maior quantidade de sistemas duplicados possível, mas há um limite, porque quanto mais você constrói, maior e mais complicada fica a nave."
"O problema da Beagle é que ela tinha tão pouca massa que não podíamos construir nenhum sistema duplicado", observa. "No caso da Fobos-Grunt, eles tinham alguns sistemas duplicados, mas não tinham um sistema duplicado na área de telecomunicações da nave."
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