A Rússia celebra nesta terça-feira os 50 anos do primeiro vôo espacial tripulado por um ser humano, realizado pelo cosmonauta soviético Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961.
Desde a missão espacial de Gagárin, outros 500 homens e mulheres seguiram os seus passos.
O vôo de 108 minutos do cosmonauta lançou o mundo na era de missões espaciais tripuladas e foi um grande golpe de publicidade para a União Soviética, que já havia lançado anteriormente o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957.
''Eu era um jovem piloto na Alemanha; pilotava um F-102 em Rammstein, na Alemanha. Naquele ano, estávamos mais concentrados em construir o muro de Berlim do que em promover a corrida especial'', recorda o americano Charles Duke, que pisou na Lua durante a missão da Apollo 16, em 1972.
''Quando ele voou, minha primeira impressão foi... bem, eles passaram à nossa frente novamente'', conta o astronauta.
Sergei Khrushchev, filho de Nikita Khrushchev, que era o premiê soviético na época, disse à BBC: ''Nós estávamos muito orgulhosos, mas nós não compreendemos o quão importante era. Era mais um vôo, mais uma conquista.''
Mas ele conta que seu pai estava plenamente consciente do significado e promoveu uma celebração na praça Vermelha após o retorno de Gagárin a Moscou.
''Quando vimos a resposta dos moscovitas, com todo mundo nas ruas, nos topos dos edifícios e nas janelas, compararia essa celebração à do Dia da Vitória, de 9 de Maio (o final da Segunda Guerra Mundial para a União Soviética)'', conta Sergei Khrushchev.
Durante o período da Guerra Fria, as ''primeiras vezes'' eram usadas pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para afirmar superioridade tecnológica e ideológica.
MISSÕES TRIPULADAS
Mas os responsáveis pelos programas espaciais americano e soviético tinham ambições mais elevadas, que envolviam enviar seres humanos em viagens pelo Sistema Solar. Antes de lançar missões tripuladas por humanos, eles experimentaram enviar animais para o espaço.
A despeito de falhas notórias, os testes bem-sucedidos indicaram que humanos eram capazes de sobreviver aos contratempos de uma viagem espacial.
Yuri Gagárin foi um dos 20 cosmonautas selecionados para o programa espacial soviético, em 1960. Os candidatos eram submetidos a um regime de treinamento severo, que envolvia longos períodos em câmaras de isolamento.
A lista de 20 aspirantes foi finalmente reduzida para dois: Gagárin e o piloto de teste German Titov.
Alguns acreditam que a origem humilde do cosmonauta contribuiu para que ele fosse o escolhido. Enquanto Titov teve uma criação de classe média, Gagárin era filho de carpinteiro e uma camponesa.
Os líderes soviéticos podem ter encarado isso como uma demonstração de que, sob o comunismo, até mesmo os representantes de famílias mais humildes poderiam ser bem-sucedidos.
Mas outros defendem que o desempenho do cosmonauta durante o processo de seleção foi um fator muito mais importante.
DIANTEIRA
No início de 1961, o astronauta americano Alan Shepard vinha treinando para um vôo suborbital em um foguete Mercury-Redstone, previsto para decolar em maio daquele ano.
Os soviéticos não estavam cientes da data do lançamento, mas Sergei Korolev, o cientista-chefe do programa espacial soviético, temia que os Estados Unidos saíssem na frente e pressionou para que o lançamento se desse o quanto antes.
Na manhã de 12 de abril de 1961, Gagárin, com 27 anos, aguardava ser lançado ao espaço do alto de uma plataforma de 30 metros na região de Tyuratam, no Cazaquistão, hoje conhecida como o Cosmódromo de Baikonur.
Quando o foguete decolou, às 9h07 do horário local, ele teria dito ''Aqui vamos nós''.
Com cerca de 1,60 metro de altura, Gagárin estava em melhores condições do que muitos para tolerar o aperto de sua cápsula espacial.
Ele se alimentava apertando tubos contendo alimentos líquidos e mantinha os controladores de sua missão a par de seu paradeiro por meio de um rádio de alta frequência e de uma chave de telégrafo.
CONTROLE
O cosmonauta não tinha, no entanto, qualquer controle sobre a sua nave espacial.
''Ninguém sabia que efeito a gravidade zero teria sobre os astronautas quando eles estavam lá em cima. Eles estavam preocupados com o risco de que ele pudesse ficar desorientado e inválido, uma vez exposto à ausência de gravidade'', lembra Reginald Turnill, repórter de temas aerospaciais da BBC entre 1958 e 1975.
''Foi decidido desde o início que ele não teria o controle da nave espacial, que o controle seria feito a partir da base'', conta o repórter da BBC.
Havia preocupação com o que aconteceria se o controle a partir da base fosse perdido, mas Gagárin recebeu um envelope selado contendo códigos que permitiram que ele assumisse o controle da nave espacial com o auxílio de um computador rudimentar que havia a bordo.
Só mais tarde veio à tona o fato de que a missão por pouco não se tornou um desastre. Cabos que ligavam a cápsula da nave espacial ao módulo de serviço não conseguiram se separar antes do reingresso de Gagárin na órbita terrestre.
Por isso, a cápsula acabou sobrecarregada por um módulo extra ao reingressar na atmosfera da Terra.
As temperaturas dentro da cápsula se tornaram perigosamente elevadas, e Gagárin por pouco não perdeu a consciência, após a cabine ter girado violentamente.
''Eu estava dentro de uma nuvem de fogo, me dirigindo para a Terra'', o cosmonauta depois recordou. Foram precisos dez minutos para que os cabos finalmente se soltassem e que o módulo de descida, contendo o passageiro, se libertasse.
O cosmonauta saltou de pára-quedas antes de sua cápsula atingir o solo, pousando perto do rio Volga.
GLÓRIA
Em seu retorno, o outrora desconhecido piloto se transformou em uma celebridade mundial. Monumentos foram erguidos em sua homenagem, ruas foram batizadas com o seu nome em diversas cidades soviéticas.
Gzhatsk, a cidade em que ele passou boa parte de sua infância, foi até mesmo rebatizada como Gagarin.
Nikita Khrushchev abraçou o cosmonauta assim que ele saltou do avião que o trouxe a Moscou. Pouco depois, o líder soviético o compararia a Cristóvão Colombo e lhe concederia o status de herói da União Soviética.
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