O ônibus espacial americano é a aeronave mais cara e complexa já construída. O programa ajudou a colocar em órbita a ISS (Estação Espacial Internacional), mas não cumpriu a missão original que era disponibilizar a viagem espacial a todos
O programa de ônibus espaciais está sendo aposentado e faz sua última viagem nesta sexta-feira (8) com o Atlantis até a ISS. Seu legado será contado nos livros de história provavelmente mostrando sucessos e fracassos, dizem os especialistas.
"Acredito que o desempenho do programa dos ônibus espaciais tem sido irregular", diz John Logsdon, assessor externo da Casa Branca e ex-chefe do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington. "O mais importante do programa foi mostrar a capacidade dos astronautas de fazerem coisas úteis no espaço", afirmou. "O verdadeiro fracasso foi não chegar nem perto das promessas iniciais de ser acessível e cotidiano", acrescentou.
O programa espacial, vigente durante três décadas e o projeto mais duradouro da NASA nos 50 anos da agência, custou ao todo US$ 208 bilhões (valor reajustado em 2010), mais do que os US$ 151 bilhões gastos no Apolo, que levou os americanos à Lua em 1969.
REDUÇÃO DE CUSTOS
O historiador da Nasa Bill Barry lembra que o objetivo inicial da nave espacial, quando foi lançada formalmente pelo presidente Richard Nixon em 1972, era fazer dos voos espaciais uma possibilidade para pessoas comuns, não apenas para uma elite preparada.
"A meta original era fazer as viagens para o espaço mais baratas, mais fáceis e não apenas para pilotos altamente capacitados com experiência militar comprovada. O objetivo era levar pessoas comuns para o espaço", disse Barry.
No entanto, a Casa Branca manteve a pressão sobre a Nasa para reduzir os custos da agência espacial que estava desenvolvendo o ônibus espacial, um processo que Barry afirma ter aumentado os preços num longo prazo.
"O programa nunca foi financiado da maneira como era esperado. Os orçamentos do projeto foram feitos quando ele ainda estava sendo construído. Mas nunca foi barato ou fácil de gerenciar", disse.
LABORATÓRIO
O programa espacial, porém, ajudou a construir um revolucionário laboratório na órbita da terra para cientistas do mundo todo.
Apesar de dois grandes acidentes, quando os ônibus espaciais Challenger e Columbia explodiram no ar em 1986 e 2003, respectivamente, a lembrança sobre o programa será provavelmente positiva, afirma Barry. "Creio que os historiadores do futuro verão os ônibus espaciais como um programa espetacular."
"Fizemos coisas incríveis com os ônibus espaciais, como a estação espacial, reparos em órbita e o Hubble", enumerou, referindo-se ao telescópio espacial colocado em órbita pelo Atlantis em 1990 e que já possibilitou importantes avanços na astronomia.
"É um grande sucesso", que conquistou um espaço na imaginação popular e inspirou filmes como o "James Bond contra o Foguete da Morte" em 1979, antes mesmo da decolagem do primeiro ônibus espacial em 1981.
PRIMEIRA GERAÇÃO
Para Longsdon, o programa deveria ter sido visto como uma experiência de primeira geração e substituído há muito tempo, "provavelmente no início dos anos 1990, após dez ou quinze anos de operações".
O especialista afirma que a decisão de construir a Estação Espacial Internacional foi tomada em 1984 sob a administração do então presidente Ronald Reagan. Ele queria que ela fosse feita em uma década, mas a construção do laboratório espacial só começou em 1998 e o processo levou quase 12 anos.
Segundo Logsdon, isso aconteceu "tanto porque os Estados Unidos estavam pagando pelo ônibus espacial como porque a ISS não tinha verba para desenvolver um veículo de substituição, já que não havia um compromisso político suficientemente forte para proporcionar os recursos necessários".
Com o fim do programa espacial, os Estados Unidos não têm como enviar astronautas ao espaço até que o setor privado possa construir um novo transporte, um processo que provavelmente deve demorar de quatro a dez anos.
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